Por falar nisso
Há uma inversão costumeira no Brasil: admitir que um elemento externo a um sistema, ou sua ausência, seja a causa da perturbação interna do sistema em questão. É como acreditar que o problema de o crime organizado comandar suas ações de dentro das cadeias se deve à ausência de bloqueadores de celular nos presídios. O que está errado não é o fato de os celulares funcionarem no perímetro e entorno dos presídios. O que está errado é o presidiário ter acesso a telefones celulares... e carregadores... e (!) créditos para falar. Mas ninguém fala sobre isso. Sobre a precariedade do sistema penitenciário, a corrupção, o dinheiro envolvido. Sobre isso ninguém fala. Enfim, sobre os elementos internos, constituintes e causadores do problema... nada. Nem uma palavra. Todos fingem que o problema é a ausência de bloqueadores de celular nos presídios... ou focinheiras nos cachorros... ou kits de primeiros socorros com alguns band-aids nos porta-luvas. Os condenados continuam comandando o crime de dentro das cadeias; os cães continuam fazendo suas vítimas; os acidentes de trânsito também. Voltando ao chip da questão (leia o post anterior): para os criminosos, burlar o sistema vai ser uma sopa. Mais fácil que desligar um alarme ou abrir uma porta. Na internet já se fala em como anular ou adulterar os dados contidos no chip. A clonagem vai ser moleza... e vamos ter vários modelos de "anti-chips". Eu fico me perguntando quantas cervejinhas vai custar saber por onde andou o carro daquele sujeito daquele partido, ou de um magnata, ou de um qualquer, ou de qualquer um. Por falar em grana, a frota nacional , 43 milhões de veículos, multiplicada pelo valor estimado de custo do chip, R$ 40,00, resulta na cifra de 1,72 bilhão de reais. E ainda não ouvi falar dos custos de instalação das antenas, sistemas informáticos, operação e manutenção da brincadeira. A prefeitura de São Paulo já falou em custear a instalação dos chips nos veículos da cidade, como se o dinheiro que ela usa não fosse o dinheiro dos cidadãos. Por que será que a solução mágica para o problema sempre envolve licitações milhonárias? E, pior: quem paga a conta, caríssimos, somos nós.
2 Comentário(s):
Alguém vai ganhar muito!
E hoje, lendo aqui sobre os tais chips, lembrei-me que ainda guardo numa gaveta o "ïndispensável" kit de primeiros socorros. Socorro, quem nos livrará desses vampiros sedentos por dinheiro suado de sangue dos trabalhadores brasileiros?
Com o cálculo de 1,72 bilhões a Prefeitura de São Paulo construiria quantas casas populares? Ou consertaria quantas ruas para evitar acidentes? Ou....? Ou....? Ou....?
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