12.8.10

A Esquerda na situação.*

Votei no Lula quando ele foi eleito para seu primeiro mandato. Não votei pela reeleição. Os primeiros quatro anos de governo petista mostraram logo de cara para que vieram. A manutenção da política social do governo FHC foi o maior indício do futuro que agora lamentamos. Sinal de que os mesmos interesses mantiveram-se no poder. Os mesmos conglomerados de capital elegeram seus candidatos. O PT virou a casaca. Para eleger-se, vendeu as idéias de reforma e manteve o status quo. Reformas na saúde pública, educação pública, reforma agrária, reforma tributária, reforma dos poderes era papo de campanha. A carga tributária paga por cada um de nós subiu assustadoramente. Neste momento, só em 2010, os brasileiros já pagaram cerca de 755 bilhões de reais em impostos¹. Mas esse não foi o maior crime do PT. O maior deles foi ter deixado um país sem diálogo político. Ao vender sua posição no tabuleiro, desequilibrou as forças, fazendo desaparecer o espaço do debate. Sem uma "oposição", sem o diálogo de classes, sem mecanismos de defesa dos direitos dos trabalhadores, sem as centrais sindicais, nos tornamos reféns dos interesses de uma minoria. Para pagarmos os mensalões, os empregos dos apadrinhados no serviço público, os contratos públicos fraudulentos, as mordomias dessa minoria que lesa nossa sociedade e ceifa nossos direitos básicos com sua sede de dinheiro e poder, levantamos todos os dias. E muitos de nós nem mesmo nos damos conta disso.


1 Os dados sobre impostos são do impostometro.com.br/

*Comentário de artigo do Guilherme Fiuza na Época.

25.7.10

O vendedor de posições.

A vergonhosa atitude da Ferrari, ordenando a Felipe Massa que deixasse Fernando Alonso o ultrapassar no Grande Prêmio da Alemanha, representa, na esfera do esporte, o estado de outras relações. A ordem, nada nova, assombra pela maneira como foi realizada, quase às claras, mas sobretudo por ter sido deliberadamente considerada normal pelos organismos esportivos que regulam a categoria; os mesmos que criaram uma regra que condena o jogo de equipe e determina que ele não seja realizado.

Aos amigos tudo, aos inimigos a lei. Deve ser esse o pensamento de Jean Todt, presidente da FIA que por muitos anos ocupou a cadeira de diretor esportivo da Ferrari. O episódio lembra tantos outros que sujam a história do esporte em nome da vontade de alguns manda-chuvas, como na própria Ferrari de Rubens Barrichelo e Michael Schumacher ou como no futebol, refém da obsolência de seus figurões.

No caso da Formula 1, a gravidade aumenta por conta da conivência daquele que é prejudicado e acaba revelando o pior de toda essa história. Enquanto na RBR um alemão e um australiano lutam corrida a corrida, enquanto na McLaren dois ingleses tocam rodas dentro da pista, na Ferrari um brasileiro estende o tapepe para o espanhol passar. Sim, Felipe Massa não tem do que reclamar. É o maior responsável pelo que aconteceu. Deixou passar porque quis, ou porque assinou um contrato que exige isso dele. Num mundo em que o dinheiro e o status são o que mais importa e a ética está totalmente relativizada, não surpreende a atitude do "pseudo-esportista" brasileiro, na realidade um vendedor de posições.

O problema é que não vende apenas sua posição dentro da pista. Quando permite a si mesmo ser ultrapassado nas cirscunstâncias em que vimos, ainda que depois mantenha a pose de contrariado, denota claramente que não está ali para vencer, que já vendeu com ele cada um de seus torcedores, cada brasileiro. Seja pelo dinheiro, pela vaidade ou por qualquer outra razão, vende a pátria que Ayrton Senna, verdadeiro esportista brasileiro, tanto exaltou em cada uma de suas vitórias na mesma categoria.

Talvez porque, diferente de Massa, Ayrton compreendesse a dimensão daquilo que fazia. Compreendia que não estava ali apenas pilotando um automóvel ou defendendo o seu salário. Entendia que um esportista representa sua nação e a qualidade humana de seu povo, a capacidade de sua gente de oferecer ao mundo a melhor tenista, o melhor jogador de futebol, o melhor nadador, a melhor saltadora, o melhor piloto. Talvez por isso Felipe Massa jamais venha a ser campeão mundial de Formula 1, apesar de sua capacidade técnica, e acabe a carreira ridicularizado pela opinião pública como outro brasileiro, o segundo piloto mais famoso da história da Ferrari, Rubens Barrichelo.

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14.11.09

Você vai tomar a vacina?

7.3.09

Sobre as declarações do Bispo

A brasa daquelas fogueiras que queimavam mulheres e homens de ciência permanece viva. Homens que se auto-intitulam representantes de "Deus", seja lá o que Isso signifique (a partir do que esses mesmos homens pregam como Sua lei, confesso temor), revezam-se no soprar, para que a chama do "remédio espiritual" não se extingua. Segundo esses representantes, o crime do estuprador, para "Deus" (uma vez que o representam), é menos grave e, suponho, estará perdoado com meia dúzia de ave marias e padre-nossos. Dar colo ao criminoso, alijar e alimentar o cão feroz para fazê-lo incondicional escudeiro é truque velho. Segundo os "sopradores", a menina deveria seguir queimando lentamente na fogueira divina, com a gravidez de gêmeos que, de acordo com a opinião dos médicos, a mataria. Quanto a esses, já tem a sentença proferida: queimarão no dia do "Juízo", ou quando "Deus" administrar-lhes o seu remedinho. Apesar da tragédia humana e da tragédia religiosa, sinto-me feliz, por que há poucos séculos ainda recairia sobre a menina a responsabilidade pelas atrocidades que sofreu.

PS: Tenho uma filha de nove anos e, graças ao "meu Deus", jamais fui batizado.

9.12.06

Amai-vos e copiai-vos

Ando lendo muitas críticas sobre blogs. Alguns dizem que blog virou coisa de vaidoso. Colegas alegam que deixaram de postar porque blog virou lugar comum. Há ainda os que falam que os blogueiros só sabem copiar uns aos outros e todo mundo publica a mesma notícia, muitas vezes sem os devidos créditos.
De fato, há blogs especializados em copiar. Mas, se por um lado o direito autoral é algo inquestionável, por outro a cópia indiscriminada nem sempre é ruim. Muitos autores, em início de carreira, divulgaram seus trabalhos admitindo a cópia. Permitir a pirataria foi a estratégia de marketing de gigantes do software por anos. Mas esse não é o potencial mais interessante da cópia, especialmente tratando-se de conteúdo digital.
Quando Guttenberg inaugurou a era midiática, inventando a prensa tipográfica, copiou basicamente duas idéias: os tipos móveis, uma evolução dos blocos de impressão já utilizados na Europa, e uma prensa inspirada na prensa usada para espremer uvas na fabricação de vinho. O inventor alemão multiplicou a capacidade humana de fixar idéias em um suporte - copiar. Copiando outras idéias e sendo copiado, acabou contribuindo com um elemento fundamental para a alfabetização dos europeus: a disponibilidade dos textos. Espalhadas cada vez mais rápido por todo o continente, inúmeras impressões, edições, cópias agenciaram o processo de alfabetização européia. Entrando em contato com misteriosos volumes, as pessoas sentiram necessidade de aprender a decifrar o código. "Trouxeste a chave?". Não é preciso dizer que a revolução promovida pela imprensa foi uma das maiores que a humanidade já viu. A internet tem o mesmo caráter propagador da imprensa (escrita), mas diferencia-se dela em alguns aspectos:

¬ reproduz e distribui numa cadeia em que não há número de cópias ou acessos previsto - ad infinitum...;
¬ é livre, de maneira geral: não regula o uso que se faz dela, não controla a (re)produção, não exige identificação, autorização ou aprovação para veicular (já há excessões);
¬ é democrática no universo de seus usuários: não discrimina ou privilegia autores , qualquer pessoa com acesso a um micro conectado é um possível autor e ator na rede;
¬ é interativa, mantém-se como canal aberto para a contrapartida do interlocutor, redistribuindo o espaço do debate;
¬ é multimidiática: idéias, textos, imagens, sons, enfim, tudo o que pode ser transformado em bits, do que há de bom e de ruim, melhor e pior, para uns e outros, copyright ou copyleft, figura na rede.

Se os hoax pululam, há também grandes idéias circulando. Soa como um esboço de democracia?
Quando o computador conectado for tão popular quanto a tv, o potencial de acesso, interação e a capacidade de expressão da opinião pública vão se tornar tão grandes que o caos não é uma aposta ruim. Por outro lado, a longo prazo, a conectividade pode contribuir para uma organização maior da sociedade, um aproveitamento melhor do potencial individual, a expressão do desejo coletivo, a realização da verdadeira democracia (não espantam as tentativas de regular, controlar e vigiar o acesso e navegação dos usuários de internet).
Eleger o que é melhor e respeitar os direitos autorais continuarão sendo problemas de cada um e de todos.
Para não descambar para o discursão, queria dizer aos colegas que desistir do seu espaço é render-se ao que há de ruim, entregar o poder aos aproveitadores, esses mesmos que se embrenham em tantos outros poderes. Abster-se é abrir mão da democracia. É preciso parar de reclamar e renovar as forças, empenhar-se ao máximo, superar-se e superar. Então, não será tão ruim nos envaidecermos um pouquinho.


PS: Este artigo é fruto de um bate-papo democrático entre amigos. Valeu, Tathi! Valeu, Nando!

2.12.06

Por falar nisso

Há uma inversão costumeira no Brasil: admitir que um elemento externo a um sistema, ou sua ausência, seja a causa da perturbação interna do sistema em questão. É como acreditar que o problema de o crime organizado comandar suas ações de dentro das cadeias se deve à ausência de bloqueadores de celular nos presídios. O que está errado não é o fato de os celulares funcionarem no perímetro e entorno dos presídios. O que está errado é o presidiário ter acesso a telefones celulares... e carregadores... e (!) créditos para falar. Mas ninguém fala sobre isso. Sobre a precariedade do sistema penitenciário, a corrupção, o dinheiro envolvido. Sobre isso ninguém fala. Enfim, sobre os elementos internos, constituintes e causadores do problema... nada. Nem uma palavra. Todos fingem que o problema é a ausência de bloqueadores de celular nos presídios... ou focinheiras nos cachorros... ou kits de primeiros socorros com alguns band-aids nos porta-luvas. Os condenados continuam comandando o crime de dentro das cadeias; os cães continuam fazendo suas vítimas; os acidentes de trânsito também. Voltando ao chip da questão (leia o post anterior): para os criminosos, burlar o sistema vai ser uma sopa. Mais fácil que desligar um alarme ou abrir uma porta. Na internet já se fala em como anular ou adulterar os dados contidos no chip. A clonagem vai ser moleza... e vamos ter vários modelos de "anti-chips". Eu fico me perguntando quantas cervejinhas vai custar saber por onde andou o carro daquele sujeito daquele partido, ou de um magnata, ou de um qualquer, ou de qualquer um. Por falar em grana, a frota nacional , 43 milhões de veículos, multiplicada pelo valor estimado de custo do chip, R$ 40,00, resulta na cifra de 1,72 bilhão de reais. E ainda não ouvi falar dos custos de instalação das antenas, sistemas informáticos, operação e manutenção da brincadeira. A prefeitura de São Paulo já falou em custear a instalação dos chips nos veículos da cidade, como se o dinheiro que ela usa não fosse o dinheiro dos cidadãos. Por que será que a solução mágica para o problema sempre envolve licitações milhonárias? E, pior: quem paga a conta, caríssimos, somos nós.

27.11.06

Quem será o "Grande Irmão"?

Na última quarta-feira (22/11), o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) aprovou a criação do Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos (SINIAV). A Resolução 212, que cria o SINIAV, obriga toda a frota nacional a instalar, no prazo máximo de cinco anos, um chip cuja finalidade é a identificação automática dos veículos. A matéria já causa polêmica. Entidades de direitos civis e advogados alegam que a medida fere o direito à privacidade previsto na Constituição. Estudos feitos em outros países comprovam que o uso desse tipo identificação traz muito pouco ganho se comparado a outras formas de identificar motoristas infratores, além de alertarem para a possibilidade de utilização do sistema para fins de vigilância.
Há poucas semanas foi a identificação de usuários de internet... é preciso reler "1984".


26.11.06

"Caros amigos" dá um tapa na matéria


Agora é moda: quem vai viver uma grande aventura no filme da sessão inédita no canal da tv não é a personagem, mas o ator. A gente assiste à chamada do filme e ouve: "Bruce Willis encara o perigo na maior aventura de sua vida" ou "Julia Roberts vive o drama da separação". As chamadas das novelas seguem a mesma linha e, enquanto celebridades levantam bilhões de dólares para a mídia de massa, fazer o sujeito achar que não é a personagem, mas a própria atriz, quem seduz o galã no folhetim das 7 horas é um ótimo negócio. Vende milhões de revistas e jornais, produz milhões de clique$ nos portais, "dá IBOPE", gera receita.
Há muito tempo que a mídia adotou a si mesma como tema. Programas que veiculam a realidade dos próprios canais, os bastidores, a vida de suas "figuras humanas" estão na mídia faz muitos anos. Tudo misturadão, realidade e ficção, fatos e falácias. Atualmente, alguns veículos especializaram-se em editoriais boateiros. Vivemos a era papparazzi e recentemente tivemos o boom dos reality shows, o estilo "BigBrother" de ver.
Na internet não é diferente a não ser pelo fato de o fenômeno ter dimensões maiores.
Tudo bem, são os nossos dias. Eu já banalizei muita coisa, estou no clube. Mas quando a Caros Amigos linka para o curta "Tapa na Pantera", velho conhecido, trazendo consigo o seguinte texto: "Tapa na Pantera Um dos vídeos mais acessados na web. O relato das aventuras alucinógenas de Maria Alice Vergueiro. Assista", é sinal de que alguma coisa está fora da ordem. Nunca imaginei que o editorial da revista incluísse mal-entendidos ou confundir seu interlocutor (sim! há um diálogo!).
Quando assisti ao video, compreendi que se tratava de uma obra de ficção. Para espantar as dúvidas, cliquei no link e confirmei: "ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO" é a primeira inscrição que aparece na tela, assim mesmo, em maiúsculas.
Será que os editores de Caros Amigos pensam que é Maria Alice Vergueiro naquela tomada? Ela mesma, admitindo publicamente que fuma maconha há trinta anos, fumando Cannabis num cachimbo portentoso, sintomática e dasavergonhada?

Fica a pergunta no ar.


21.11.06

Roda

O registro mais antigo do uso da roda tem data estimada entre 4000 e 3500 a.c. É um baixo-relevo gravado sobre uma placa de argila encontrada na cidade de Ur, antiga Mesopotâmia (aproximadamente 80 km ao Sul de Bagdád). O homem (Homo sapiens sapiens) têm aproximadamente 200.000 anos de idade. Portanto, levamos cerca de 194.000 anos para inventar a roda. E 6.000 para Jean-Yves Blondeau chegar a esta belezura:

Revisão 1.1: A roda mais antiga do mundo foi encontrada em Ljubljana, Eslovênia, em abril de 2002 e tem data estimada entre 5.100 e 5.350 anos. Fonte: Slovenia News.

Jean-Yves Blondeau Buggy-Rolling*



*Musica por Daft Punk.


16.11.06

Image Mosaic Generator

Image Mosaic Generator não é um produto das Organizações Tabajara.
Funciona assim: você faz o upload de uma foto ou indica o endereço na rede que contém a foto e ele monta um mosaico da foto usando muuuuuuitas outras fotos de usuários do Flickr; ai você faz o download do mosaico, em vários tamanhos.
Clicando na imagem das meninas você vê os detalhes do mosaico. A dica eu peguei no Cópia Carbono.