Ando lendo muitas críticas sobre blogs. Alguns dizem que blog virou coisa de vaidoso. Colegas alegam que deixaram de postar porque blog virou lugar comum. Há ainda os que falam que os blogueiros só sabem copiar uns aos outros e todo mundo publica a mesma notícia, muitas vezes sem os devidos créditos.
De fato, há blogs especializados em copiar. Mas, se por um lado o direito autoral é algo inquestionável, por outro a cópia indiscriminada nem sempre é ruim. Muitos autores, em início de carreira, divulgaram seus trabalhos admitindo a cópia. Permitir a pirataria foi a estratégia de marketing de gigantes do software por anos. Mas esse não é o potencial mais interessante da cópia, especialmente tratando-se de conteúdo digital.
Quando
Guttenberg inaugurou a era midiática, inventando a prensa tipográfica, copiou basicamente duas idéias: os tipos móveis, uma evolução dos blocos de impressão já utilizados na Europa, e uma prensa inspirada na prensa usada para espremer uvas na fabricação de vinho. O inventor alemão multiplicou a capacidade humana de fixar idéias em um suporte - copiar. Copiando outras idéias e sendo copiado, acabou contribuindo com um elemento fundamental para a alfabetização dos europeus: a disponibilidade dos textos. Espalhadas cada vez mais rápido por todo o continente, inúmeras impressões, edições, cópias agenciaram o processo de alfabetização européia. Entrando em contato com misteriosos volumes, as pessoas sentiram necessidade de aprender a decifrar o código. "Trouxeste a chave?". Não é preciso dizer que a revolução promovida pela imprensa foi uma das maiores que a humanidade já viu. A internet tem o mesmo caráter propagador da imprensa (escrita), mas diferencia-se dela em alguns aspectos:
¬ reproduz e distribui numa cadeia em que não há número de cópias ou acessos previsto - ad infinitum...;
¬ é livre, de maneira geral: não regula o uso que se faz dela, não controla a (re)produção, não exige identificação, autorização ou aprovação para veicular (já há excessões);
¬ é democrática no universo de seus usuários: não discrimina ou privilegia autores , qualquer pessoa com acesso a um micro conectado é um possível autor e ator na rede;
¬ é interativa, mantém-se como canal aberto para a contrapartida do interlocutor, redistribuindo o espaço do debate;
¬ é multimidiática: idéias, textos, imagens, sons, enfim, tudo o que pode ser transformado em bits, do que há de bom e de ruim, melhor e pior, para uns e outros, copyright ou copyleft, figura na rede.
Se os
hoax pululam, há também grandes idéias circulando. Soa como um esboço de democracia?
Quando o computador conectado for tão popular quanto a tv, o potencial de acesso, interação e a capacidade de expressão da opinião pública vão se tornar tão grandes que o caos não é uma aposta ruim. Por outro lado, a longo prazo, a conectividade pode contribuir para uma organização maior da sociedade, um aproveitamento melhor do potencial individual, a expressão do desejo coletivo, a realização da verdadeira democracia (não espantam as tentativas de regular, controlar e vigiar o acesso e navegação dos usuários de internet).
Eleger o que é melhor e respeitar os direitos autorais continuarão sendo problemas de cada um e de todos.
Para não descambar para o discursão, queria dizer aos colegas que desistir do seu espaço é render-se ao que há de ruim, entregar o poder aos aproveitadores, esses mesmos que se embrenham em tantos outros poderes. Abster-se é abrir mão da democracia. É preciso parar de reclamar e renovar as forças, empenhar-se ao máximo, superar-se e superar. Então, não será tão ruim nos envaidecermos um pouquinho.
PS: Este artigo é fruto de um bate-papo democrático entre amigos. Valeu, Tathi! Valeu, Nando!