25.7.10

O vendedor de posições.

A vergonhosa atitude da Ferrari, ordenando a Felipe Massa que deixasse Fernando Alonso o ultrapassar no Grande Prêmio da Alemanha, representa, na esfera do esporte, o estado de outras relações. A ordem, nada nova, assombra pela maneira como foi realizada, quase às claras, mas sobretudo por ter sido deliberadamente considerada normal pelos organismos esportivos que regulam a categoria; os mesmos que criaram uma regra que condena o jogo de equipe e determina que ele não seja realizado.

Aos amigos tudo, aos inimigos a lei. Deve ser esse o pensamento de Jean Todt, presidente da FIA que por muitos anos ocupou a cadeira de diretor esportivo da Ferrari. O episódio lembra tantos outros que sujam a história do esporte em nome da vontade de alguns manda-chuvas, como na própria Ferrari de Rubens Barrichelo e Michael Schumacher ou como no futebol, refém da obsolência de seus figurões.

No caso da Formula 1, a gravidade aumenta por conta da conivência daquele que é prejudicado e acaba revelando o pior de toda essa história. Enquanto na RBR um alemão e um australiano lutam corrida a corrida, enquanto na McLaren dois ingleses tocam rodas dentro da pista, na Ferrari um brasileiro estende o tapepe para o espanhol passar. Sim, Felipe Massa não tem do que reclamar. É o maior responsável pelo que aconteceu. Deixou passar porque quis, ou porque assinou um contrato que exige isso dele. Num mundo em que o dinheiro e o status são o que mais importa e a ética está totalmente relativizada, não surpreende a atitude do "pseudo-esportista" brasileiro, na realidade um vendedor de posições.

O problema é que não vende apenas sua posição dentro da pista. Quando permite a si mesmo ser ultrapassado nas cirscunstâncias em que vimos, ainda que depois mantenha a pose de contrariado, denota claramente que não está ali para vencer, que já vendeu com ele cada um de seus torcedores, cada brasileiro. Seja pelo dinheiro, pela vaidade ou por qualquer outra razão, vende a pátria que Ayrton Senna, verdadeiro esportista brasileiro, tanto exaltou em cada uma de suas vitórias na mesma categoria.

Talvez porque, diferente de Massa, Ayrton compreendesse a dimensão daquilo que fazia. Compreendia que não estava ali apenas pilotando um automóvel ou defendendo o seu salário. Entendia que um esportista representa sua nação e a qualidade humana de seu povo, a capacidade de sua gente de oferecer ao mundo a melhor tenista, o melhor jogador de futebol, o melhor nadador, a melhor saltadora, o melhor piloto. Talvez por isso Felipe Massa jamais venha a ser campeão mundial de Formula 1, apesar de sua capacidade técnica, e acabe a carreira ridicularizado pela opinião pública como outro brasileiro, o segundo piloto mais famoso da história da Ferrari, Rubens Barrichelo.

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